top of page

Regina Maria Miranda
Bebê: Ana Cecília

Com 41 semanas a completar no dia seguinte, fui à consulta com o GO com a ecografia feita naquela manhã. Pelo exame, estávamos bem, nós duas, mas o líquido amniótico estava bem baixo (54mm). Isso, aliado ao tempo de gestação e ao grau de maturidade da placenta, além do fato da Ana Cecilia já estar encaixada há tempo e com todos os sinais de maturidade para nascer, levaram o doutor a aconselhar fazermos algo para o fim da gestação. Chegou a falar em cesárea se eu quisesse, mas deu a opção de indução ao parto com oxitocina. Como meu desejo desde o início era o parto normal (motivo pelo qual mudei de GO no finalzinho da gestação), optei pela indução.

O GO explicou em detalhes as vantagens e desvantagens de cada opção, lembrando que a indução poderia acabar em cesariana, caso não houvesse evolução, mas salientou que todo o meu quadro era muito positivo e que havia muita possibilidade da indução dar certo sim e que se precisasse poderíamos, ainda, recorrer à analgesia para o parto normal. Esses esclarecimentos me tranquilizaram muito, pois passaram a certeza de que ele, de fato, acataria minhas decisões até onde fosse possível. Antes de sair do consultório, ele efetuou uma manobra mecânica, como tentativa final de que o trabalho de parto se iniciasse sem o uso de oxitocina sintética.

Fomos direto para o Instituto Besser tentar uma indução natural, com relaxamentos e exercícios físicos, antes de precisar recorrer à intervenção da oxitocina sintética. O ambiente da sala de pré-parto do Besser foi decisivo para me manter calma durante o tempo entre a consulta e o momento que deveria me internar no hospital (O GO pediu que me internasse à 18h daquele dia). O cheiro, a energia de tantas mães que já estiveram ali, o aconchego e a presença energética de bebês dentro ou fora do útero inundam o ar naquele espaço tão nosso e tão de todas ao mesmo tempo e, assim, comecei a “sentir” o parto dentro de mim. Sentir é o principal. Não apenas sentir as contrações e as dores que elas trazem, mas sentir a presença do bebê em todos os momentos. Sentir o calor que não é apenas físico, é o calor da alma e da ligação mãe e filho. Então senti aquela força do “ser mulher” na sua essência mamífera. A força da natureza humana feminina que atravessa as eras desde o início dos tempos, força que vem da terra mãe e da qual compartilhamos todas nós. Assim, depois de algum tempo de relaxamento e movimento entrei em trabalho de parto. Nem acreditava, estava radiante de estar chegando a hora tão esperada de me jogar de cabeça nessa viagem com minha filha, a viagem do parto.

Depois de algum tempo, meu marido, que fora pra casa buscar as malas e comemoramos juntos o momento único. Conforme pedido do Dr., internamos. A mudança de ambiente, o internamento e alguns pequenos detalhes que não saíram como eu imaginava “esfriaram” o trabalho de parto. Mas logo chegou a Tiffany Buchmann, minha doula, amiga, meu anjo e assim, me acalmei rapidamente. E a salinha do Besser foi transferida para o quarto da maternidade. Sem escalda pés, para esquentar os pés dessa parturiente de pés ultra gelados, a doula e o marido (depois chamado de doulo pelo GO) improvisaram panos quentes usando as arandelas do quarto (momento hilário). Quando médico chega ao quarto observa: “não vão pôr fogo no hospital, hein!” Assim, aos poucos as contrações foram ganhando ritmo novamente, já com oxitocina no soro, cada vez mais, o trabalho de parto engrenou.

A partir daí as lembranças são confusas e a passagem do tempo fica muito relativa. Mas o que lembro muito bem é da constância da doula e do “doulo” ao meu lado, dando comida, me levando para “passear” pelos corredores da maternidade, dando suporte físico e emocional o tempo todo. Depois de um tempo, precisei ir para o chuveiro. Aquela ducha, com a mão de marido e doula e a bola de Pilates eram como um colo de mãe, fazendo a dor ficar mais fácil de suportar. Lembro que variamos entre chuveiro, bola, cócoras e repouso. Quando as dores já estavam bastante intensas, repetia para mim como um mantra o que vi num relato de parto durante a gestação, cada dor é uma a menos, cada vez mais próximo o encontro com meu bebê. E a Ty, me vendo chegar ao desespero, me dizendo, “o que é essa cara de desespero? Não! Quero gemido de prazer”, repetindo o treinamento das aulas e lembrando que aquela era uma experiência de felicidade e de realização, acima de qualquer coisa. Que cada contração era um passo adiante e que “a dor era nossa amiga”. Por fora acho que minha expressão continuava sendo de dor, mas por dentro eu estava rindo, sempre achei muito engraçada essa história de “gemido de prazer” que minha doulinha querida pedia.

E aí é que a memória falha de vez. Lembro dos cuidados do GO com a Ana Cecília e comigo, lembro do alívio de ouvir que estávamos bem com andamento do parto normal e que podíamos dar continuidade a ele. E, depois de ouvir que tínhamos alcançado dilatação suficiente para descartar totalmente a necessidade de cesária, entreguei-me de todo e as lembranças ficam ainda mais obscuras. Deixei a natureza comandar minhas ações e só sei que arranhava e apertava a cada contração. E em algum momento disso tudo, quando estava em pé e tentando fazer cócoras no quarto, senti uma necessidade incontrolável de “rebolar”. Eu precisava movimentar o quadril. Não porque diminuísse a dor, mas simplesmente tinha que fazê-lo. Imediatamente, senti o toque da Ty, guiando meus movimentos naqueles círculos e parafusos. E no lar obscuro e aconchegante da partolândia (que deve ser igual ao útero de nossa mãe) passei o restante do tempo até chegar o momento da expulsão, sentia frio, precisava de duchas, precisava da bola, precisava de algo / alguém em que me apoiar.

Lá pelas tantas, o GO entra para o exame de monitoramento. A Ty diz que a dilatação deveria estar em 9 e ele aposta mais no 8. Eis que estávamos com 9 mesmo! A doula sabe sem fazer exame de toque, uma sabedoria admirável. Então, o Dr. me diz aquilo que esperava: “Chegou a hora Regina, a Ana Cecília está chegando”. Hora de nos prepararmos para transferir para a sala de parto. Vestindo a camisola a bolsa estourou. Enquanto o GO me acompanhava até a sala de parto, doula e marido se preparavam para entrar junto. Meu bebê esperou seu tempo e meu tempo. Nossos corpos em sintonia tornaram possível um parto sem laceração e sem episiotomia. Ana Cecília vinha e voltava e, depois de uma hora e meia de expulsivo pude conhecê-la. Nem acreditei quando ouvi o Dr. dizendo: “Pega sua filha”. Uma frase que nunca mais esquecerei e que arrepia sempre. Naquele momento, todo o resto do mundo e todo o resto da minha vida pareceram muito pequenos diante daquele serzinho nos meus braços, buscando meu corpo e me olhando, tentando entender o que estava acontecendo, de repente. E, se naquele momento, Ana Cecília se perguntava o que era tudo aquilo, onde estava e porque, a mãe dela, ao contrário, achava as respostas para essas mesmas perguntas em sua vida. O sentido da minha vida se revelou naquele momento, quando vi o rostinho dela e os meus olhos turvos de lágrimas buscaram seu olhar.

Sem escalda pés, para esquentar os pés dessa parturiente de pés ultra gelados, a doula e o marido (depois chamado de doulo pelo GO) improvisaram panos quentes usando as arandelas do quarto (momento hilário). Quando médico chega ao quarto observa: “não vão pôr fogo no hospital, hein!”
Regina Maria Miranda
Curso de Parto Normal Online
  • YouTube Manual do Parto
  • Instagram Manual do Parto
  • TikTok Manual do Parto
  • Facebook Manual do Parto
  • Telegram Manual do Parto
Curso de Parto Normal Online
bottom of page